Contato Imediato

o irracional da razão

sábado, 22 de outubro de 2016

Cruzadinha

Estou aqui me passando, mas preciso falar sobre Henrique. Conheci ele no final do ano de 2014 e o paquerei involuntariamente. Não deu. Meses depois, Henrique me paquerou. Eu queria. Não sabia que queria.

Nesse tempo, Henrique me propôs ir numa sorveteria, a minha resposta foi "topo, mas tu não pode me paquerar" ele riu "tudo bem".  O encontro ficou salvo só no antigo celular e na memória da gente.

Quase um ano depois de conhecê-lo, mando uma mensagem, ele me enrola, quer cantar pra mim uma música de Sandy e Júnior "ah, ah, vai ter que rebolar", mas o desarmo quando digo que "pelo tempo o sorvete já tinha derretido". Ele ri. Topa. Fomos à sorveteria.

Paquerou. Paquerei. Beijei Henrique e senti que não queria estar em outro lugar. Logo eu, que não tinha talento pra nadar em piscinas cheias, acostumada a saltar nas piscinas vazias, fui correspondida. Melhor abraço quebrador de costelas.

Mais ou menos, três meses depois recebo uma palavra cruzada feita por ele, em que todas as minhas respostas formavam a frase: "Ketheryne estou apx. Quer namorar comigo, girl?".

Primeiro: a pessoa saber escrever meu nome é algo relevante, tendo em vista que, na semana passada demorei 5 minutos achando que tinha esquecido a senha, quando na verdade tinha escrito meu nome errado. Segundo: passei uns segundos falando "isso é uma charada???". Terceiro: nunca na história desse país eu esperei algo tão fofinho.

Desde então aprendi um pouco sobre pronomes possessivos, saudade, mangás, ouvir, entender, confiar, ciúme, quadrinhos, informática, conchinha, marvel, Brasília, Deadpool, DC, Mário e o Mário verde.

Parece que aconteceu ontem, mas já faz quase um ano. Eu nunca saberei quando fará um ano e muito menos Henrique. Desculpe pela passação, acordei romântica. Beijo mozão. I love u so much.

sábado, 30 de julho de 2016

A troca

Li um artigo, desses que circulam pela internet, que as pessoas estão cada dia mais fazendo jogos psicológicos, e "se passando", por achar que amar é apenas revidar. Esperamos pelo abraço para que tenhamos a iniciativa de abraçar, esperamos uma mensagem de bom dia para retribuir, só coloco fotos se ele colocar antes, buscamos dar o troco quando o amado demora a responder numa rede social.

O excesso de ego deve afogar a nossa geração nos próprios umbigos, nos próximos 40 anos, segundo Chutes&Dados. O texto também dizia que, ultimamente, os relacionamentos são uma troca de "quem se importa menos". Se o amor romântico não existe mais é uma coisa, desacreditar naquele amor obsessivo que faz perder a cabeça, é algo até interessante, mas deixar de sentir ou fingir que não sente para mostrar que tem um "poder" pode ser tão problemático quanto o apego em excesso.

Sob a desculpa de amor-próprio, as pessoas estão cada dia mais na retaguarda, amando conforme o recebimento de amor. Elas parecem não entender que o amor que fica é o que damos. E somente nós sabemos do nosso gostar. O sentimento do outro, cabe ao outro. Dessa forma, os relacionamentos possuem estruturas frágeis, que são derrubadas por qualquer imprevisto que causa um atraso no encontro, ou na demora da resposta do WhatsApp.

Aprendemos a ver o outro como ameaça, a competitividade do mercado de trabalho,  ser o mais belo, caso não tenhamos um certo destaque, a impressão é que seremos deixados para trás. Isso acaba afetando também os relacionamentos. Quando falo de relacionamentos está dentro dele todos os tipos não só os amorosos. Aprendemos a amar  nossa família, namorado, amigos de forma estranha. A gente acaba amando o que convém. Mas será mesmo que o nome disso é amor?!

Seria tão simples se ao invés de esperar o amor dos outros, pudéssemos espalhar o nosso amor. E percebesse o amar em pequenas coisas como um chocolate, uma surpresa sem data especial, ou um cuidado a mais quando ficamos resfriados. Sem esperar o "bom dia" de alguém para decidir "mandar flores ao delegado". No final é aquilo, só podemos dar o que temos e só temos o que damos.

Mas o amor não é simples, né?! E há quem acredite que os jogos acabam sendo interessantes para aquecer uma relação.

sexta-feira, 15 de abril de 2016

Boca

Há alguns meses escrevi sobre o filme Wiplash. Citei um careca e disse que em algum momento da vida nós temos algum careca. A profecia se cumpriu. Como uma coisa falada tão natural que se realiza, parecendo que foi pedido. Quando a gente brinca com o acaso e diz as regras por um momento. Feito buscamos por algo, que nem sabemos o que é de verdade. Quando "o que a gente procura está procurando pela gente".

Em poucos meses me acostumei com um braço riscado pela memória falha. Por achar que era uma declaração e ter apenas "passar no banco",  "supermercado", "assistência"; Me acostumei a um sorriso que não sei se é mais tímido ou mais belo. Alias, Belo é o teu apelido na família. Mas o que me hipnotiza mesmo é tua boca, não porque me beija ou por dizer frases bonitas, mas o recorte perfeito que tem. A tonalidade. A barba é só o que dá o toque a mais. Seria a torta de frango sem a azeitona, você sabe o que quero dizer com isso. Sabemos que o teu cabelo nunca mais voltará, mas eu nem reflito sobre isso, não me importo. Me acostumei a dormir no meio do filme e acordar contigo rindo. E me acostumei a você me tirar de uma situação de risco e sem querer já ir pisando no meu pé e caindo, me derrubando ou batendo a cabeça na parede (quando tudo isso não acontece ao mesmo tempo).

Eu me acostumei e pretendo não desacostumar. Não é que eu não saiba viver sem tua boca, é que eu não quero.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Ela

Tentando não esquecer totalmente  do blog, acabei acessando por acessar. Decidi escrever algo só pra me manter familiarizada. Estou em dívida com muitas coisas. Assistir filmes que gosto é uma delas.

Enquanto escrevia qualquer coisa aqui, me bateu uma saudade quase sufocante de Her. Quem dera fosse apenas um filme, uma abordagem simples e sutil sobre a sociedade contemporânea e tudo aquilo que ela acarreta.

A solidão, o amor idealizado, projetado, procurado. A necessidade constante de amar e ser amado. De criar um amor. Depois de anos, sem me sentir tocada por um filme, um desses filmes que todos assistem e nem sempre entendem, ou pelo menos entendem diferente de mim.

Não sei se a trilha sonora, o roteiro, a fotografia, o momento, a situação, a fase que passava. O conjunto de tudo. Algo transformou o filme, em mais que um filme.

Mesmo tendo uma péssima memória fiz questão de guardar frases. Sem dúvida, a mais clichê/piegas, a mais delicada e sensível, é também a mais lúcida. “Apaixonar-se é uma loucura. É como uma forma de insanidade socialmente aceitável”.

Se alguém pode se apaixonar por um sistema operacional, por que não posso me apaixonar por um filme?

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Sem contrato

Paulo Mendes Campos tinha razão quando afirmava que o amor acaba. Ah, se ele acaba. Ele não escolhe quem deve eternizar ou quem deve romper. Nem a hora. Nem lugar. É um furacão. Sem dia, hora, minuto. Assim como surge, se vai. Assim como a estabilidade não quer dizer nada. Assim como a instabilidade não quer dizer nada.

Quantas relações tentamos decifrar o tempo de duração. Afirmamos que serão apenas meses, ou no máximo até três anos, a duração média dos apaixonados segundo pesquisas. Então, ao passar dos três anos já entregamos para eternidade. Se passou pelo arroto, discussões em família, brigas, reconciliações, viagens e pausas sexuais, o casal está pronto para sempre. 

Recentemente encontrei um amigo que terminou um relacionamento de oito anos. O motivo é o mais temido de todos... Ele lembrou que não havia contrato. Um dia acabou. Não é uma morte rápida e pouco dolorosa, muito pelo contrário. Mas é algo que não se ignora. E se tem uma coisa estranha, é o tal do amor. Ele acaba, mas ele se renova. E se cria. E cria raízes em locais que nem imaginamos. Meu amigo, um quase ateu, se vê apaixonado por uma evangélica. 

Se o novo desperta o amor, o antigo o faz ancorar durante anos num local só. Saber quando o amor irá acabar é inútil e tolo. É procurar por brigas. É pensar que alguém ficará com você apenas pelo gosto musical, sexo, ou poesias. É querer prever um contrato imprevisível. É sentar e esperar por algo que pode não acontecer. É esquecer da magia que envolve o amor. Quantas pessoas conhecemos que tem um gosto semelhante ao nosso, mas não despertam a magia. É necessário algo a mais que previsões.

Para cada amor que acaba, existe algum que já floresce. Numa relação existe sempre dois pesos. Para um, o amor acaba para renascer em outro. Para o outro, no pior dos casos, é entendido que o amor está perdido. É mais fácil pensar que ele está confuso, mas o amor, ah, o amor. O amor se finda.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Sinceramente

Conheci Laura há cinco anos. Na primeira vez que a vi foi antipatia dupla. As duas paqueravam o mesmo carinha do cursinho. Depois de um tempo, percebemos que o gosto parecido não era só para caras alternas do cenário recifense. Eram o mesmo para roupas, músicas, lugares, pessoas, amigos. Ela era tipo uma irmã. Fazia questão de dizer, a todos que não a conhecia,  o quanto nos parecíamos, não só fisicamente.

O tempo foi passando, a amizade fortaleceu, me separei de algumas amigas e me aproximei ainda mais de Laura. Dormia na casa dela. Passava festas de fim de ano, natal, carnaval, aniversários. Conversava por olhares. Aprendia a cozinhar. O problema do filho único é que quando vê uma família grande quer se agregar. Laura tem quatro irmãos, que conversam sobre mangás, biologia, física, astrologia. Eu ficava feliz por estar lá.

Há exatamente um ano, no último carnaval, nos separávamos, em meio a um show de Titãs. Os gostos foram se destoando. Enquanto me iludia por um cara que pixava muros. Ela estava no segundo ano de namoro com o pagodeiro mais legal e simpático. Já não nos entendiamos mais. Eu falava grego e ela aramaico. Risos tornaram-se discussões tão ridículas quanto qualquer outra. "Você acha mesmo isso de mim?".

Como se quatro anos fosse o suficiente para conhecer tudo sobre alguém. Como se uma vida pudesse ser suficiente. Existem pais que nunca conhecem os filhos. Assim como amantes desconhecem os amados. Não percebi que minha amiga se distanciava tanto de mim. Atualmente, tudo o que eu sei sobre Laura é que ela tem jogado Criminal Case. Continua namorando um cara camisa 10. Ainda sabe desenrolar tudo que é pedido a ela. Fotografa, costura, cozinha, borda e pinta, sem exageros.

Minha amiga-irmã de anos atrás não conversa mais comigo. Não sabe que irei me formar no final do ano. Muito menos deve saber que agora estou apx/namoro com um professor de inglês formado em matemática. Fui insensível e ela difícil de expôr como o meu desleixo a machucava. Ou talvez o motivo seja só não ter aparecido quando deveria. Os motivos são meio inúteis, de certa forma. Poderíamos enumerar descuidos que se tem quando temos algo nas mãos. Quando existe muita farinha de trigo é normal exagerar na hora de untar o bolo.

Fiz uma faxina interna para me desfazer de algumas pessoas que não estavam mais em lugares externos. Que não conversava mais. Que não conversava silenciosamente e por gestos, nem olhares. Pessoas que se foram. Claro que Laura não se chama Laura. Mas isso não faz dessa história menos real.

Ainda lembro das conversas, comidas, risadas. Praça do Arsenal, Dona Lindu, Artes Visuais também me fazem lembrar de Laura. Assim como a música Sinceramente de Cachorro Grande e Best of You de Foo Fighters. "Is someone getting the best, the best, the best, the best of you?". Acredito que perder uma amizade doa mais que perder um amor.

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

de forma grandiosa

Não sei como pensam as pessoas, mas sempre imagino numa maneira grandiosa de morrer. Depois de quase cair num bueiro e quase morrer afogada na praia, entendi que o que me salvou foi justamente não me permitir morrer por algo pequeno. Na infância, li uma frase de Paulo Coelho, que dizia algo como "quando pensamos muito na morte, aproveitamos melhor a vida" e aquilo me fez, vez ou outra, pensar sobre a morte.
Daí em diante a imaginação fértil fez o resto. Morrer atropelada não pode. Morrer salvando uma vida no Jalapão pode. Afogada não pode. Morrer de amor pode. E nessa ilusão de falsa cigana da avenida Boa Viagem fui construindo o que podia ou não. Sem perceber que se morre todo dia. Que se vive todo dia. Muitas pessoas tem isso de querer imortalizar as coisas, ou se auto imortalizar, como se todos fossemos artistas e passasse a linha do tempo da vida de cada um nos jornais. Como se a vida pedisse que o eterno fosse durável.
Vemos nos jornais que é perigoso sair de casa, logo nos acostumamos a ficar presos. É notório também que a maioria das pessoas ao nosso redor morrem,  elas não são mortas, a não ser claro que você more num lugar considerado de risco. Caso seja mulher tem o risco da obsessão vestida na pele do amor, nesse caso, também há riscos. Mas no mais, o que a gente escuta falar é que "não acredito, Zé da venda morreu? Mas ele estava bonzinho ontem. Como pode?!".
Recordo de uma frase de Guimarães Rosa, quando ele diz, "o que tem que ser tem muita força". O grandioso mesmo, não carece de explicações. Acontece por que acontece. Uma gripe, uma febre, uma onda, um bueiro. Nunca é demais lembrar que não é só gente que morre. Sentimentos também.