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o irracional da razão

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Sinceramente

Conheci Laura há cinco anos. Na primeira vez que a vi foi antipatia dupla. As duas paqueravam o mesmo carinha do cursinho. Depois de um tempo, percebemos que o gosto parecido não era só para caras alternas do cenário recifense. Eram o mesmo para roupas, músicas, lugares, pessoas, amigos. Ela era tipo uma irmã. Fazia questão de dizer, a todos que não a conhecia,  o quanto nos parecíamos, não só fisicamente.

O tempo foi passando, a amizade fortaleceu, me separei de algumas amigas e me aproximei ainda mais de Laura. Dormia na casa dela. Passava festas de fim de ano, natal, carnaval, aniversários. Conversava por olhares. Aprendia a cozinhar. O problema do filho único é que quando vê uma família grande quer se agregar. Laura tem quatro irmãos, que conversam sobre mangás, biologia, física, astrologia. Eu ficava feliz por estar lá.

Há exatamente um ano, no último carnaval, nos separávamos, em meio a um show de Titãs. Os gostos foram se destoando. Enquanto me iludia por um cara que pixava muros. Ela estava no segundo ano de namoro com o pagodeiro mais legal e simpático. Já não nos entendiamos mais. Eu falava grego e ela aramaico. Risos tornaram-se discussões tão ridículas quanto qualquer outra. "Você acha mesmo isso de mim?".

Como se quatro anos fosse o suficiente para conhecer tudo sobre alguém. Como se uma vida pudesse ser suficiente. Existem pais que nunca conhecem os filhos. Assim como amantes desconhecem os amados. Não percebi que minha amiga se distanciava tanto de mim. Atualmente, tudo o que eu sei sobre Laura é que ela tem jogado Criminal Case. Continua namorando um cara camisa 10. Ainda sabe desenrolar tudo que é pedido a ela. Fotografa, costura, cozinha, borda e pinta, sem exageros.

Minha amiga-irmã de anos atrás não conversa mais comigo. Não sabe que irei me formar no final do ano. Muito menos deve saber que agora estou apx/namoro com um professor de inglês formado em matemática. Fui insensível e ela difícil de expôr como o meu desleixo a machucava. Ou talvez o motivo seja só não ter aparecido quando deveria. Os motivos são meio inúteis, de certa forma. Poderíamos enumerar descuidos que se tem quando temos algo nas mãos. Quando existe muita farinha de trigo é normal exagerar na hora de untar o bolo.

Fiz uma faxina interna para me desfazer de algumas pessoas que não estavam mais em lugares externos. Que não conversava mais. Que não conversava silenciosamente e por gestos, nem olhares. Pessoas que se foram. Claro que Laura não se chama Laura. Mas isso não faz dessa história menos real.

Ainda lembro das conversas, comidas, risadas. Praça do Arsenal, Dona Lindu, Artes Visuais também me fazem lembrar de Laura. Assim como a música Sinceramente de Cachorro Grande e Best of You de Foo Fighters. "Is someone getting the best, the best, the best, the best of you?". Acredito que perder uma amizade doa mais que perder um amor.

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