Contato Imediato

o irracional da razão

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Ela

Tentando não esquecer totalmente  do blog, acabei acessando por acessar. Decidi escrever algo só pra me manter familiarizada. Estou em dívida com muitas coisas. Assistir filmes que gosto é uma delas.

Enquanto escrevia qualquer coisa aqui, me bateu uma saudade quase sufocante de Her. Quem dera fosse apenas um filme, uma abordagem simples e sutil sobre a sociedade contemporânea e tudo aquilo que ela acarreta.

A solidão, o amor idealizado, projetado, procurado. A necessidade constante de amar e ser amado. De criar um amor. Depois de anos, sem me sentir tocada por um filme, um desses filmes que todos assistem e nem sempre entendem, ou pelo menos entendem diferente de mim.

Não sei se a trilha sonora, o roteiro, a fotografia, o momento, a situação, a fase que passava. O conjunto de tudo. Algo transformou o filme, em mais que um filme.

Mesmo tendo uma péssima memória fiz questão de guardar frases. Sem dúvida, a mais clichê/piegas, a mais delicada e sensível, é também a mais lúcida. “Apaixonar-se é uma loucura. É como uma forma de insanidade socialmente aceitável”.

Se alguém pode se apaixonar por um sistema operacional, por que não posso me apaixonar por um filme?

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Sem contrato

Paulo Mendes Campos tinha razão quando afirmava que o amor acaba. Ah, se ele acaba. Ele não escolhe quem deve eternizar ou quem deve romper. Nem a hora. Nem lugar. É um furacão. Sem dia, hora, minuto. Assim como surge, se vai. Assim como a estabilidade não quer dizer nada. Assim como a instabilidade não quer dizer nada.

Quantas relações tentamos decifrar o tempo de duração. Afirmamos que serão apenas meses, ou no máximo até três anos, a duração média dos apaixonados segundo pesquisas. Então, ao passar dos três anos já entregamos para eternidade. Se passou pelo arroto, discussões em família, brigas, reconciliações, viagens e pausas sexuais, o casal está pronto para sempre. 

Recentemente encontrei um amigo que terminou um relacionamento de oito anos. O motivo é o mais temido de todos... Ele lembrou que não havia contrato. Um dia acabou. Não é uma morte rápida e pouco dolorosa, muito pelo contrário. Mas é algo que não se ignora. E se tem uma coisa estranha, é o tal do amor. Ele acaba, mas ele se renova. E se cria. E cria raízes em locais que nem imaginamos. Meu amigo, um quase ateu, se vê apaixonado por uma evangélica. 

Se o novo desperta o amor, o antigo o faz ancorar durante anos num local só. Saber quando o amor irá acabar é inútil e tolo. É procurar por brigas. É pensar que alguém ficará com você apenas pelo gosto musical, sexo, ou poesias. É querer prever um contrato imprevisível. É sentar e esperar por algo que pode não acontecer. É esquecer da magia que envolve o amor. Quantas pessoas conhecemos que tem um gosto semelhante ao nosso, mas não despertam a magia. É necessário algo a mais que previsões.

Para cada amor que acaba, existe algum que já floresce. Numa relação existe sempre dois pesos. Para um, o amor acaba para renascer em outro. Para o outro, no pior dos casos, é entendido que o amor está perdido. É mais fácil pensar que ele está confuso, mas o amor, ah, o amor. O amor se finda.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Sinceramente

Conheci Laura há cinco anos. Na primeira vez que a vi foi antipatia dupla. As duas paqueravam o mesmo carinha do cursinho. Depois de um tempo, percebemos que o gosto parecido não era só para caras alternas do cenário recifense. Eram o mesmo para roupas, músicas, lugares, pessoas, amigos. Ela era tipo uma irmã. Fazia questão de dizer, a todos que não a conhecia,  o quanto nos parecíamos, não só fisicamente.

O tempo foi passando, a amizade fortaleceu, me separei de algumas amigas e me aproximei ainda mais de Laura. Dormia na casa dela. Passava festas de fim de ano, natal, carnaval, aniversários. Conversava por olhares. Aprendia a cozinhar. O problema do filho único é que quando vê uma família grande quer se agregar. Laura tem quatro irmãos, que conversam sobre mangás, biologia, física, astrologia. Eu ficava feliz por estar lá.

Há exatamente um ano, no último carnaval, nos separávamos, em meio a um show de Titãs. Os gostos foram se destoando. Enquanto me iludia por um cara que pixava muros. Ela estava no segundo ano de namoro com o pagodeiro mais legal e simpático. Já não nos entendiamos mais. Eu falava grego e ela aramaico. Risos tornaram-se discussões tão ridículas quanto qualquer outra. "Você acha mesmo isso de mim?".

Como se quatro anos fosse o suficiente para conhecer tudo sobre alguém. Como se uma vida pudesse ser suficiente. Existem pais que nunca conhecem os filhos. Assim como amantes desconhecem os amados. Não percebi que minha amiga se distanciava tanto de mim. Atualmente, tudo o que eu sei sobre Laura é que ela tem jogado Criminal Case. Continua namorando um cara camisa 10. Ainda sabe desenrolar tudo que é pedido a ela. Fotografa, costura, cozinha, borda e pinta, sem exageros.

Minha amiga-irmã de anos atrás não conversa mais comigo. Não sabe que irei me formar no final do ano. Muito menos deve saber que agora estou apx/namoro com um professor de inglês formado em matemática. Fui insensível e ela difícil de expôr como o meu desleixo a machucava. Ou talvez o motivo seja só não ter aparecido quando deveria. Os motivos são meio inúteis, de certa forma. Poderíamos enumerar descuidos que se tem quando temos algo nas mãos. Quando existe muita farinha de trigo é normal exagerar na hora de untar o bolo.

Fiz uma faxina interna para me desfazer de algumas pessoas que não estavam mais em lugares externos. Que não conversava mais. Que não conversava silenciosamente e por gestos, nem olhares. Pessoas que se foram. Claro que Laura não se chama Laura. Mas isso não faz dessa história menos real.

Ainda lembro das conversas, comidas, risadas. Praça do Arsenal, Dona Lindu, Artes Visuais também me fazem lembrar de Laura. Assim como a música Sinceramente de Cachorro Grande e Best of You de Foo Fighters. "Is someone getting the best, the best, the best, the best of you?". Acredito que perder uma amizade doa mais que perder um amor.